O projecto dos Biótopos de Cura baseia-se na teoria da distribuição e realização, a qual designamos de “teoria política”. Darei, de seguida, uma breve descrição das suas premissas e estrutura lógica.
O trabalho pela paz global precisa de um conceito geral para ser capaz de fazer frente ao poderio económico e militar da globalização. Apenas um conceito global pode ter força suficiente para retirar força à matriz global de violência. O conceito de paz aqui apresentado assume que a Gaia-Terra com todos os seus habitantes é uma unidade viva, um organismo. Um organismo unificado pode ser influenciado e modificado introduzindo a informação apropriada. Esta introdução pode ser feita a partir de um ou vários locais na Terra. Se seguir as leis básicas da vida, terá um efeito de “campo morfogenético” ao longo de todo o organismo. A transição da velha para a nova matriz não seguirá o velho princípio da medição de forças. Seguirá, sim, o princípio da alteração de informação. Informação regenerativa, introduzida numa área antes bloqueada por informação de medo e violência, pode estimular a mudança em todo o organismo. Hoje, devido à emergente visão holística sobre o mundo, temos novas possibilidades de cura que podem surtir efeito em todo o planeta. Vivemos numa época em que é possível realizar a maior ambição que o ser humano pode ter – restabelecer a paz, a liberdade e a harmonia na Terra – em concordância com o pensamento científico. Estamos, por isso, numa corrida contra as forças da oposição; é objectivamente urgente. A Teoria Política oferece um conceito com o qual a corrida pode ser ganha. Este conceito contém seis partes:
- A Estrutura Holística da Realidade
- A Vida Contém uma Estrutura Unificada de Informação
- O Princípio do Campo
- A Nova Informação
- A Realidade da Utopia Concreta
- O Projecto dos Biótopos de Cura
A Estrutura Holística da Realidade
A mundivisão holográfica ou holística pressupõe a unidade de toda a existência. O mundo é um todo unificado e a sua estrutura, a sua informação e as suas leis estão inscritas em todas as suas partes e podem também ser influenciadas cada uma dessas partes. No seu livro “The Silent Pulse” [“O Pulsar Silencioso”], George Leonard escreve o seguinte:
“Dado que cada partícula do universo produz constantemente campos de ondas e cada conjunto de partículas emite também o seu próprio e distinto campo, o número de cruzamentos entre ondas é praticamente infinito. Teoricamente, sob esta perspectiva, poderíamos criar um tipo de super-holograma contendo informação de todo o universo.”
Dito por outras palavras, pode-se (em teoria) aceder à informação geral do universo em cada um dos seus pontos. Se pudéssemos ver as profundezas de um único lugar do universo, aí observariamos e compreenderíamos todo o universo. Para além disso, o que ocorre num ponto específico do universo é determinado pela totalidade dos seus eventos. Também todo o universo pode ser influenciado por cada um dos pontos nele contidos. Estas são as conclusões lógicas implícitas na citação acima.
O todo existe dentro de todas as suas partículas e o super-holograma do mundo pode ser observado, com todo o detalhe, na estrutura de um átomo, na espiral da concha do caracol, nas conexões entre neurónios e na composição molecular do código genético. O carimbo do mundo está em toda a parte como uma espécie de cosmograma de alta densidade. Todas as coisas são a expressão de uma mesma existência e de uma mesma consciência, coexistindo no todo. Num sentido religioso, podemos também dizer: o espírito do mundo, que actua no seu todo, actua também em todas as suas partes.
A Vida Contém uma Estrutura Unificada de Informação
Existe na biosfera uma área onde a informação integral da vida está registada de uma forma especial: no código genético do núcleo celular. Em todos os seres vivos a base matemática da estrutura do código genético é a mesma, diferindo, apenas, o nível de diferenciação. Isto significa que a mesma informação basilar da vida existente num mexilhão está também presente numa cerejeira ou num ser humano. Isto é verdadeiramente impressionante. O que foi trazido à luz pelas pesquisas das ciências da natureza modernas corresponde a um verdadeiro “curso em milagres”. A Teoria Política olha para esses milagres. Existe aqui uma indicação segura da unidade do bio-corpo a que todos os seres pertencem. Existe apenas uma existência e uma consciência. Podemos, portanto, – desde que usemos a frequência correcta – comunicar com a serpente, o sapo, o rato e até mesmo com as árvores e as flores. A comunicação entre espécies que procuramos, a cooperação com animais em termos de trabalho de paz global, foi providenciada pelo plano da Criação. Esta possibilidade advém do facto de existir uma estrutura universal de consciência que opera em todos os seres.
Aqui gostaria de destacar uma descoberta interessantíssima feita há trinta anos: o impressionante paralelismo entre a estrutura matemática do código genético e a do oráculo chinês I Ching. Em duas áreas tão diferentes, detectamos uma fórmula universal quase idêntica. A unidade da existência não poderia ser mais bem ilustrada.
O Princípio do Campo
Nova informação introduzida num organismo unificado opera em todas as suas partes. Nova informação introduzida numa parte de um organismo unificado opera no organismo inteiro. Nova informação que seja introduzida numa população opera em todos os seus indivíduos. Nova informação que seja introduzida num indivíduo opera (latentemente) em todos os indivíduos da população em questão. Todos os membros desta população fazem parte desse processo de aprendizagem. Para todos eles, um trilho fica marcado, facilitando a aprendizagem de um novo comportamento. Um exemplo deste fenómeno é a escalada do Everest sem botija de oxigénio – uma informação importante para os alpinistas. Depois de Reinhold Messner o ter conseguido, muitos outros o conseguiram também. Certas conexões nos padrões neuronais do cérebro e certas conexões na cadeia molecular do código genético são activadas, gerando uma maior predisposição para mudanças comportamentais. O princípio da “criação de campos morfogenéticos” é aplicável a desenvolvimentos culturais, políticos e globais. Se a população consistir em toda a humanidade, novos modos comportamentais que sejam importantes para toda a humanidade, vão activar uma predisposição para uma mudança comportamental generalizada.
A biosfera é um organismo unificado. Se nele introduzimos uma informação adequada, esta irá operar em todos os seus elementos, isto é, em todos os humanos, animais, plantas, águas, etc… Se a informação brotar da matriz sagrada, esta alcançará todos os seres, de forma explícita ou dissimulada, pois todos os seres, inclusive humanos, se encontram em ressonância com a matriz sagrada, quanto mais não seja de forma latente.
(A biosfera é constituída não só por formas materiais visíveis, mas também por seres espirituais invisíveis (devas) e pelas linhas energético-espirituais que fazem a conexão entre todos os seres. Pode-se, assim, imaginar mais facilmente a unidade espiritual, à qual Teilhard de Chardin chamou “noosfera”.)
Se introduzirmos um novo conjunto de informação, amplamente testada e comprovada sobre cooperação e confiança, esta despoletará a criação de um novo campo. Em todos os elementos do todo, disponibiliza-se uma certa predisposição comportamental, que vê aumentada a sua probabilidade de adopção.
Em suma: a Gaia-Terra é um corpo vital unificado. Os seus órgãos formam um conjunto, tal como os órgãos do meu corpo. Num corpo doente, um único comprimido pode ser suficiente para estimular todas as células e órgãos rumo a um estado saudável. O comprimido introduz informação de cura no corpo, que é seguida por todos os elementos do corpo, tal como acontece num campo. O que é válido para o corpo humano é também válido para todo o conjunto dos corpos que compõem o corpo vital da Gaia-Terra. O efeito do campo baseia-se no plano de construção holístico da Criação. Esta é uma grande oportunidade actualmente à nossa disposição; talvez até a única que temos. Se a seguirmos, entramos numa direcção completamente nova de pensamento político. Qual é então o “comprimido” que precisamos de introduzir na Gaia-Terra para que a paz e a cura aconteçam?
A Nova Informação
A nova informação geral, a ser introduzida no bio-corpo, diz respeito às áreas centrais da coexistência humana e da coexistência entre humanos e natureza. Conceitos-chaves para esta informação são: comunidade sem dominação – solidariedade e aproximação entre os géneros – confiança ao invés de medo – cooperação com a natureza, animais e todas as criaturas – nutrição livre de cumplicidade – tecnologia não-violenta – prática espiritual e consciência universal. A nova informação geral advém destas áreas vivenciais. Ela emerge quando o conjunto individual de informação presente em cada uma destas áreas se torna congruente e começa a vibrar na mesma direcção, isto é, quando se torna coerente. Gera-se então uma frequência unificada e coerente no pensamento e na acção, que entra na noosfera como informação geral. Esta é uma informação sobre confiança, união e cooperação. O resultado é uma forma de ser fundamentalmente “universal”, na qual toda a vida se revela interligada, comunicando e cooperando entre si. Os trabalhadores de paz, que actuam nestas áreas, vibram numa frequência comum em coerência com a sua consciência. Não podem existir contradições na nova informação geral que introduzimos na noosfera, caso contrário teremos “interferências na linha”. Aqui, elevados padrões éticos de conduta são impostos aos trabalhadores de paz. Um dos nossos slogans é: “Se, enquanto trabalhador de paz, fazes algo que perturba a tua paz interior, então, nesse momento, estás em contradição.”
É necessário repensar todas as áreas da vida. Se, por exemplo, ambicionamos realmente uma cooperação amigável com os animais, temos então que parar de os ver como bens de consumo. Utilizaremos produtos (veganos) livres de cumplicidade; usaremos cada vez menos cosméticos e medicamentos testados em animais de laboratório, etc. Faremos isto não por causa de um qualquer conjunto de normativas morais, mas por uma lógica factual. Todo o trabalhador de paz que compreenda esta lógica, ficará feliz por assumi-la. Precisamos de saber estas coisas, sem cair na tendência de as transformar imediatamente em leis ou dogmas. Se o fizermos, estas tornar-se-ão estruturas inquisitórias. Primeiro, precisamos compreender, depois agir numa base de experimentação, em seguida, aprofundar, depois actuar mais rigorosamente, depois absorver completamente e, então, agir radicalmente. Se agirmos consistentemente, surgirão outras consequências: não podemos viver um estilo de vida vegano e, em simultâneo, assistir passivamente às práticas de matança a que os animais são submetidos. Continuaremos assim a edificar a informação da paz, levando a cabo determinadas acções no mundo, começando, talvez, pelo nosso bairro. Habitando uma zona rural como o Alentejo, alguns dos membros do nosso Biótopo de Cura começaram a visitar os agricultores que soltam pelos terrenos os seus burros e cavalos, com as patas da frente amarradas, e procurámos a abordar o assunto de forma amigável. Se não fazemos coisas como estas, estamos de certa a provocar interferências na linha ao colocarmo-nos em contradição.
Seguir a Teoria Política requer um compromisso firme, que alcança o comportamento que adoptamos nos mais pequenos detalhes da nossa vida. Se as nossas acções não se encontram alinhadas com a grande informação geral, estas não possuem quase nenhum efeito. Contudo, se ocorrem no quadro da informação geral, ressoam com o fabuloso sistema da Criação, o bio-corpo terrestre, e com a sua estrutura de informação, as suas funções primárias e leis espirituais. Estas medidas estão em ressonância com o sonho planetário (ler o próximo tópico). Tais medidas, tomadas em conjunto, dia após dia, no seio de uma comunidade forte, geram uma força que entra no corpo de vida do planeta e determina um novo rumo para todos os seres. Esta cria uma nova prontidão para agir, activa uma nova direcção para o desenvolvimento, e torna possíveis novas decisões. O objectivo dos Biótopos de Cura é fazer isto acontecer.
A Realidade de uma Utopia Concreta
Não temos que inventar o futuro desejado, pois ele já se encontra – latentemente – contido no presente. Este tem de ser acedido, percepcionado e tornado consciente. Este é um verdadeiro processo de antecipação. O jovem Marx escreveu a Ruge o seguinte:
“Tornar-se-á claro que o mundo, desde há muito, sonha com algo que precisa apenas ser tornado consciente para ser trazido à realidade.”
Isto significa que precisamos apenas de nos consciencializar do sonho do mundo para “possuir” o conteúdo desse sonho, isto é: realizar o sonho. O mesmo encadeamento de ideias está descrito no belo poema de Joseph von Eichendorff:
“Há uma canção dormitando em todas as coisas, que sonha e sonha, e o mundo começa a cantar, se a palavra mágica encontrares.”
Presente em todas as coisas está, portanto, a mesma canção do mundo, o mesmo sonho. Basta reconhecer e realizar este sonho do mundo. Ernest Bloch chamou-lhe o “nondum” (o ainda-não), o “por-vir”, a “utopia latente” ou “utopia concreta”. Este nondum tem uma existência latente (velada) mas real. É uma imagem de matéria subtil da realidade, inerente a todas as formas como um modelo e uma possibilidade real. É como com a holografia, onde a imagem original – em latência ou de forma velada – permanece intacta por detrás das imagens distorcidas de uma película holográfica. Se eu apontar no ângulo certo o feixe de referência para a película, surge uma imagem nítida por detrás da distorção. O mesmo se aplica às pessoas: se eu percepcionar um indivíduo com a atitude certa, a imagem verdadeira da sua entelequia é revelada.
A existência da utopia concreta facilita o nosso trabalho. Os nossos esforços para desenvolver novas estruturas vivenciais encontram-se com uma outra força, dentro de nós, que nos guia e torna possível fazer coisas que, de outra forma, não seríamos capazes. Existem muitos exemplos disso. Somos, por vezes, dominados por uma calma absoluta e uma sensação de segurança durante um acidente de automóvel. O que é isto? No meio de uma situação tumultuosa com alguém que, até à data, fora meu inimigo, experiencio subitamente sentimentos de compreensão, simpatia e verdadeira compaixão. O que é isto? Numa situação revolucionária violenta, de súbito compreendo que este é o caminho errado. O que é isto? – É a presença do nosso “eu-superior”, o nosso “ser de luz”. É uma parte real da “utopia concreta” ou da matriz sagrada, que está sempre presente. Isto é importante em termos de dialéctica e holografia: utopia concreta não é apenas uma perspectiva humana subjectiva e arbitrária; é sim um verdadeiro diagrama da realidade. No conceito holístico da realidade, os aspectos objectivos e subjectivos do mundo estão intimamente ligados. Vimos isto no manifesto de Haifa: “Não haveria sede, se não houvesse água para a saciar.”
Um sonho, uma visão, uma imagem interior ou a utopia concreta, constituem a luz interior de uma realidade próxima que já se encontra presente latentemente e que surte efeitos incríveis. Ela encontra-se por detrás de todas as metamorfoses na natureza. De acordo com os aborígenes, a planta é o “sonho” da semente. O besouro é o “sonho” da larva. A borboleta é o “sonho” da lagarta. Podemos assim vislumbrar a dimensão poderosa que está aqui a laborar.
Quando uma visão é verdadeiramente percepcionada e encontrada, vem à luz um verdadeiro pedaço da realidade futura. É através da própria visão que a realização se torna mais próxima. O místico e cientista russo Solowjew declarou que todas as acções e pensamentos alinhados com a harmonia e unidade do mundo, promovem a sua manifestação.
O Projecto dos Biótopos de Cura
Biótopos de Cura são lugares onde se desenvolve um sistema vivo de acordo com as qualidades básicas da confiança, sentido de pertença e solidariedade com todos os seres vivos. Este são lugares de germinação e estações de transmissão da nova informação, espaços para aprender e vivenciar a matriz sagrada, receptáculos sociais e ecológicos para acumular (e disseminar) energia regenerativa. Para que a informação correcta para uma forma não-violenta de existir seja transmitida para a noosfera, os Biótopos de Cura têm de conter um grau suficiente de complexidade, duração, experiência e participantes. (Como mencionado anteriormente, o número mínimo de colaboradores necessários para produzir a informação geral está provavelmente compreendido entre os 300 e os 500.) Vários anos de experimentação prática são necessários para que responsáveis e colaboradores ganhem experiência, e conheçam as mudanças necessárias na sua própria forma de vida. Quando se inicia tal projecto, inicia-se um processo de revelações, que os desafia constantemente a dar novos passos e olhar em novas direcções.
Biótopos de Cura emergem quando chega a altura certa. Este parece ser o caso hoje em dia. A ideia dos Biótopos de Cura não é uma invenção privada, mas um “modelo mental e espiritual” pertencente ao espírito da actualidade. Ela contém uma alta “latência utópica” e uma grande propensão para a materialização. O que nos percorre em forma de ideias e vontades, corresponde a uma tendência no universo.
Assim que a informação dos Biótopos de Cura tenha sido suficientemente desenvolvida, iremos provavelmente observar uma reacção global em cadeia: assim que a nova informação desenvolvida no primeiro Biótopo, atinja uma dimensão crítica em termos energéticos, de densidade e precisão, a probabilidade de centros semelhantes surgirem noutros locais na Terra aumentará drasticamente. Este processo ocorre automaticamente, baseado no princípio do campo (ver ponto 3). Logo que a nova matriz se tenha materializado num local na Terra, existe uma grande probabilidade de ela se materializar noutros lugares também, devido ao princípio do campo. Continua a ser difícil expressar este processo em números. Talvez mais 10 centros em 15 ou 20 anos? A questão não se encontra tanto na quantidade de novos centros; o que é relevante é a força que estes contêm e a coesão da sua informação. Quanto mais abrangente for a nova informação e quanto maior a sua precisão, maior a probabilidade do sistema vigente “ruir”. A noosfera estará, por assim dizer, grávida com a nova informação, e a velha informação de violência, ao não receber mais projecções, acaba por padecer. O resultado da disputa entre a velha e a nova matriz é determinado por processos de informação.
A nova civilização mundial emergirá a partir de espaços como a rede de novos centros. Na medida em que se encontram em conformidade com o modelo do universo, os Biótopos de Cura constituem verdadeiras células germinativas de uma nova era. Onde quer que novos inícios sejam possíveis – para lá de todos os becos sem saída, guerras e destruição – os Biótopos de Cura podem ser as enzimas de uma nova era.
Este é um excerto traduzido do livro “The Sacred Matrix” [“A Matriz Sagrada”] escrito por Dieter Duhm.