O AMOR É O PONTO DE ARQUIMEDES

“O amor começa onde quer que possamos fazer realmente algo uns pelos outros”.
Gabriele Brueggemann, membro de longa data de Tamera

“Aprender a viver da maneira certa significa aprender a amar. O amor verdadeiro não faz exigências de posse nem impõe condições. Para mim, a única coisa que realmente cura as pessoas é o amor incondicional. O amor é o que dá significado à vida”.
Elisabeth Kuebler-Ross, psiquiatra e pioneira em estudos de casos de quase-morte

Existem dois estados de ser: um de coração fechado e outro de coração aberto. O amor é a abertura do coração. A pior verdade da era patriarcal é que ela impediu o amor. A miséria da sociedade ocidental reside no facto de nenhum amor permanente ser possível, pois desde há muito que os corações abertos são bombardeados com crueldade e desilusões inimagináveis. No princípio, as crianças têm o coração aberto, mas aos poucos fecham-no porque os adultos não fazem ideia como lidar com corações abertos. Os episódios da infância são habitualmente como uma gota de acetona que cai numa ameba. Ela fecha as suas aberturas e retrai os seus tentáculos. Isto pré-programa o organismo para se fechar de futuro, também. No primeiro amor, os jovens têm o coração aberto, mas cedo entendem que o melhor é voltar a fechá-lo, porque a experiência foi demasiado dolorosa. Os adultos, normalmente, só estão prontos para abrirem o seu coração completamente em condições específicas pré-calculadas. Como estas condições são incompatíveis com um amor verdadeiro, o seu coração fecha-se automaticamente e mantém-se depois mais ou menos fechado para sempre.

Um mundo humano pode apenas surgir através de corações abertos. Por isso, podemos dizer que a condição determinante para a manifestação da matriz sagrada na Terra é o amor.

O Destino Histórico do Amor

Contudo, isto marca também o início do drama, pois nenhum de nós fechou o seu coração sem motivo. Assumimos um risco ao abri-lo novamente. Temos medo de o fazer porque, geração após geração, tivemos más experiências quando o fizemos. Quanto maior o desejo, maior o medo. Por fim, biliões de pessoas aprenderam a conquistar os seus desejos. No seu lugar, colocamos substitutos de realização compatíveis com o sistema: entretenimento, media, consumo, turismo, futebol – e, às vezes, guerra.

Muitos males resultam de um amor não realizado. A vingança surge de um amor que foi traído. Apego, chantagem, ciúme, medo de abandono, desconfiança e espionagem mútua: estes são elementos de uma síndrome moderna que afecta as nossas relações amorosas, e que resultam de más experiências relacionadas com o tempo em que os nossos corações ainda estavam abertos. Onde quer que exista uma centelha e, numa fracção de segundo, o coração queira abrir, o seu oponente interno é frequentemente mais rápido. Em vez de amor, o resultado é raiva ou medo, porque a dor, que outrora foi associada ao amor, está guardada no subconsciente. Durante milénios, o destino do amor associou-se à desilusão e separação, traição e mentira, suspeição, crueldade e homicídio. Tal deu origem a uma estrutura psicológica colectiva que reagiu ao amor com o medo da separação, ao medo da separação com promessas falsas de fidelidade, e às promessas falsas de fidelidade com raiva e vingança. Esta ligação desastrosa encontra-se na fundação da sociedade actual e nos seus conceitos de amor, nas suas regras de matrimónio, na sua moral e estratégias de guerra. Não poderá haver paz na Terra enquanto houver guerra no amor.

O amor traído e não realizado constitui um elemento fundamental da velha matriz. Se uma abertura do coração ocorre apesar destas condições, vemos frequentemente a ocorrência dos seus derivados correspondentes pouco depois, que são parte da velha matriz: paixão descontrolada, reivindicações de posse, medo do abandono, comparação com outros, competição, violência e vingança. As óperas, tragédias, filmes e revistas estão cheios deles. Assim como os centros de conselho terapêutico, hospitais, alas psiquiátricas e cemitérios. Aqui encontramos um horror sem fim — um horror que ninguém está disposto a testemunhar por muito tempo. É demasiado terrível. Para a maioria das pessoas aprisionadas nesta estrutura actual, não existe escapatória ou esperança, ou hipótese para o amor. Por vezes, até jovens de 15 anos decidem acabar com a sua própria vida por terem compreendido este facto. (…)

O Amor é o Maior Poder de Cura

Enquanto o amor esteve bloqueado pelas restrições da velha matriz, ele tornou-se uma força destrutiva. As mais belas amizades entre homens terminaram por causa de uma mulher. As mais belas amizades entre mulheres terminaram por causa de um homem. Na realidade, contudo, os poderes de cura do amor são bastante superiores a todos os demais. Ele é o verdadeiro elixir da cura. Poderíamos facilmente ser levados a crer que estamos perante uma situação sem solução. Por um lado, a cura só pode acontecer através do amor; por outro, o amor leva-nos a todos os conflitos de que queremos escapar. Mas este cálculo está errado, pois ele opera segundo uma imagem falsa do amor. A cura é parte da nova matriz, não da velha. Devemos portanto procurar a imagem de amor que nos leva à cura na nova matriz e não na velha.

Uma das experiências da nova matriz é a descoberta da tarefa mais elevada pela qual viemos a esta vida, bem como uma categoria profissional correspondente na comunidade humana que nasce actualmente. Enquanto a minha existência se confinar ao meu eu privado, nunca serei capaz de resolver o mistério do amor. O amor, mesmo quando surge entre dois seres, é sempre um poder divino universal, e, por isso, pode apenas ser realizado num estado de ser universal. O amor não requer dois pares de olhos fixados uns nos outros. Pelo contrário, ele requer olhos fixos num objectivo comum. O amor é mais que um sentimento – é um estado de ser. Ele advém do campo da conexão e não de calculismos. Actualmente, quase todas as pessoas encontram-se – consciente ou inconscientemente – num campo de calculismo no que toca ao amor. O diálogo interno, então, é o seguinte: “Se eu me permitir amar completamente esta pessoa… e se aparecer outra pessoa que também o/a ame… e se ela/ele amar a outra pessoa mais do que me ama a mim…se ela/ele é o nº.1 para mim, mas eu não sou a/o sua/seu nº.1 … nãonãoconsigonãoquerobrrbooo “. Este é o pensamento que nos mantém o coração fechado. O amor livre falhou sempre por causa desta estrutura.

Criar Um Novo Espaço de Vida

O trabalho de paz interno e externo requer que integremos a questão do amor de uma forma nova. Os grupos do passado não sabiam como lidar com a força deste tema. O seu erro foi procurarem a solução para a questão do amor onde ela não podia ser encontrada. O amor livre, que não faz cálculos, comparações ou retribuições, é parte da matriz sagrada. Ele não pode, portanto, ser alcançado com ideias e métodos provenientes da velha matriz. Não o podemos ganhar através de árduos exercícios de transformação pessoal. Pelo contrário, ele manifesta-se à medida que entramos na nova matriz da vida. Encontramos a matriz da vida, o preenchimento, (…), orientação e amor também fora das relações conjugais. O mesmo acontece com os seres da natureza e, ao interagirmos com eles, podemos aprender sobre os segredos do amor. Isto torna mais fácil compreender e aceitar o amor numa situação concreta com a pessoa que amamos.

O projecto do Biótopo de Cura começou em 1978 com a ideia de estabelecer um projecto para o amor no qual os amantes que se separaram possam encontrar-se renovadamente, uma e outra vez. Às vezes, chamámos-lhe simplesmente ” o projecto para salvar o amor”. Era claro para mim que teríamos de tomar um rumo completamente novo para que isso pudesse acontecer, e que não poderíamos permanecer focados apenas no tópico do amor. Em última instância, a meta era criar um espaço de vida totalmente novo, que possibilitasse a transição da velha para a nova matriz. (…)

Familiarizámo-nos com a nova matriz em diversas áreas do nosso projecto e observámos como ela difere de todos os velhos conceitos. Vimos também a naturalidade com ela vem até nós, assim que estamos prontos para ela. Conhecemo-la ao lidar com animais, ao comunicar com ratazanas e cobras, ao tentar influenciar o tempo, curar doenças e feridas. Experienciámos como uma comunidade se mantém unida em tempos de maior necessidade, como os perigos se ultrapassam na união, como obstáculos financeiros podem ser de súbito ultrapassados e como as forças espirituais de apoio intervêm quando a nossa força pessoal já não é suficiente.

Transitar para a Matriz da Confiança

Apesar disto, demorou bastante tempo até que os primeiros se atrevessem a pisar no terreno do amor. No entanto, da perspectiva da matriz do amor, é tão simples. Se te apercebes que amas uma pessoa, então segue esse amor, sem condições. O que quer que seja feito com amor, está certo. Uma das frases essenciais de Van Gogh era: começa por confiar. Quanto ao resto, ” deixa Deus fazer” – a matriz sagrada fará o resto por ti. Não é difícil fazê-lo – é fácil. As dificuldades podem ser superadas com facilidade. Segue o amor e assume o risco de atravessar as turbulências da alma, pelas quais provavelmente passarás. É importante saber que a pessoa que amas verdadeira e honestamente, provavelmente, também é amada de forma verdadeira e honesta por outros. Seria estranho se assim não fosse. Ultrapassa esta tensão e permanece fiel ao amor. Terás pensamentos completamente novos, e encontrarás uma alegria e um alívio que não julgarias ser possível. Farás descobertas que dificilmente conseguirás comunicar a alguém. Poderás parecer afundado em pensamentos ou até mesmo sombrio, mas um tipo completamente novo de alegria percorre o seu caminho dentro de ti e na tua vida. Pede aos teus amigos para não se surpreenderem se agires de maneira estranha ou se lhes pareceres ligeiramente transtornado por uns tempos. Alega insanidade e explica-lhes porquê. Aprende a manter-te ligado, mesmo no centro desta turbulência.

A coisa certa acontece automaticamente quando conhecemos a matriz sagrada e quando estamos cada vez mais dispostos a segui-la. Há todo um conhecimento completamente novo que se torna disponível. O ciúme também é uma questão de conhecimento. A partir de um certo grau de conhecimento, não podemos mais ser ciumentos, pois sabemos que o ciúme não faz parte do amor; e sabemo-lo não apenas teoricamente, mas a um nível celular, em cada uma das células do nosso corpo. As cadeias de informação no código genético reorganizam-se, deixando de haver espaço para a informação do ciúme. A totalidade do nosso corpo sabe disso. Sabemos também que o amor está relacionado com entrega, dádiva, servir e ajudar e não com exigir e forçar. Os velhos padrões de chantagem mútua deixam de existir e as velhas ideias de separação, competição e ciúme perderam terreno. A velha matriz desapareceu por si mesma.

Vivenciei repetidamente a facilidade com que estas coisas ocorrem. Não precisamos de qualquer terapia – precisamos de uma paciência inabalável e de uma compreensão crescente. Podemos dizer que é necessária uma fé absoluta no amor. A matriz sagrada sabe que o medo do abandono e as medidas de precaução não fazem parte do amor. A dada altura, também nós o sabemos. E assim inicia-se um novo e mais profundo caminho de cura, onde se abrem perspectivas completamente novas. A partir deste ponto, iniciamos a criação do Biótopo de Cura.

Este é um excerto editado do livro: “The Sacred Matrix” [“A Matriz Sagrada”] por Dieter Duhm.

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