MOVIMENTO POR UMA TERRA LIVRE

Um Apelo aos Jovens e a Todos os Demais

Dieter Duhm, Junho de 2019

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Tenho 76 anos e continuo a ser tão politicamente activo como durante o movimento estudantil de 1968, mas agora com experiências que tenho de partilhar, pois entretanto compreendi os motivos pelos quais, até agora, quase todos os movimentos fracassaram.

Hoje, milhares de jovens saem às ruas pela proteção do clima e pela mudança de sistema. O meu sincero agradecimento por isto! Apenas espero que este movimento ganhe suficiente força interior e perseverança para realmente poder conduzir a uma mudança de sistemas. Esta seria realmente uma reviravolta histórica; há séculos que existem pessoas a lutar contra a exploração, opressão e violência, e há séculos que perdem a luta face à superioridade do sistema existente. Contudo ninguém poderá parar esta luta, pois por toda a parte existem pessoas, principalmente jovens, que não conseguem tolerar a barbaridade da sociedade existente. Lutam ao lado dos indígenas Dakota em “Standing Rock”, lutam em “Hambacher Forst” (floresta milenar na Alemanha), lutam na comunidade de paz de San José de Apartadó na Colômbia, lutam pela restauração de Riace (Itália), lutam nos barcos de resgate de refugiados no mediterrâneo, lutam… em todos os continentes.

E repetidamente, muitos perdem a sua força passado algum tempo. Desiludidos ou desencorajados, retiram-se, adoecem, tornam-se toxicodependentes ou criminosos. Eu próprio fui testemunha e conduzi este tipo de luta durante quatro anos, na esquerda marxista Alemã (em 1968), até entender que precisávamos de uma outra solução. Os velhos conceitos de revolução perderam a sua credibilidade. A violência nunca melhorou nada neste planeta. O mundo inteiro precisa de nova informação. Como gerar esta nova informação, e como podemos levá-la ao mundo? Esta tem sido, desde então, a questão e a tarefa.

Agradecemos pelo vosso apelo colectivo por um futuro no qual valha a pena viver. Que a vossa rebelião global encontre o seu objectivo interior, um objectivo para toda a humanidade. Os poucos que hoje têm a coragem de abandonar esta hipnose colectiva precisam de apoio solidário. Utilizem a vossa liberdade por todos os que neste momento não têm essa mesma possibilidade e, nesse sentido, precisam urgentemente da vossa ajuda. Não utilizem a vossa raiva apenas contra o sistema e os seus representantes; utilizem-na para se libertarem dos velhos padrões no vosso interior. Não somos o produto de uma sociedade, de uma tradição, de uma família; somos seres humanos. Libertem-se do peso do passado – de um passado histórico terrível.

Vamos unir-nos e proteger a vida que hoje é destruída praticamente em todo o lado em nome de entidades económicas e governamentais. Existe um socialismo que está para além de todos os partidos e ideologias: este é o socialismo da confiança, da entreajuda e que nos une. O que actualmente transporta o poder de sobrevivência, são os pensamentos que advém da verdade e de um amor que se atreve a tomar partido. São estes pensamentos que te conduzem a ti e a todos nós ao conhecimento que precisamos para a cura. É tão simples, fundamental e verdadeiro… e se formos bem sucedidos, o resultado será um campo de confiança que terá impacto nas áreas de crise.

Neste sentido, quero mencionar aspectos que poderiam transformar a grande rebelião numa força concreta que jamais poderá ser capturada pelo sistema vigente.

Os protestos actuais por um futuro no qual valha a pena viver, pelas alterações climáticas e pela proteção da natureza, pelos direitos humanos e dos animais, são símbolos de um despertar global em todos os continentes. No entanto, estes precisam de um objectivo comum ou serão derrotados no confronto com o sistema vigente. As aspirações por um futuro melhor serão apenas alcançadas se existir uma visão nítida da mudança de sistema necessária.

Mudança de sistema! O que significará isto actualmente, em tempos onde todos os anos se gastam milhões de dólares para deliberadamente transmitir informações erradas sobre o tema do clima global? Tempos onde não é permitido salvar refugiados que se afogam no Mediterrâneo, onde a prosperidade de uma parte do mundo é gerada à custa da exploração e da crueldade noutras partes do mundo? Já para não falar do destino das crianças nas zonas de guerra, do destino dos animais nos matadouros, nos laboratórios de experimentação animal ou na produção de peles…

Para superar o sistema capitalista precisamos de uma visão positiva para uma forma de vida pós-capitalista. Precisamos de uma visão comum para nós, para os nossos filhos, para todos os que são forçados a sair do seu país, uma visão para vítimas e agressores, uma visão para o amor, para a nossa relação com os animais, com a natureza e com todo o mundo cósmico – o mundo do qual todos nós viemos. Esta visão não é uma invenção de seres humanos, ela existe como realidade latente, inerente ao plano da vida.

O plano da vida: os sistemas vivos da Terra e do Universo seguem uma matriz interior focada na cura e na unidade, e num desenvolvimento mais elevado, através da cooperação e da união. Qualquer doença pode ser curada, qualquer conflito pode ser resolvido, se o campo da frequência humana se ligar com a frequência deste campo cósmico. Neste campo, conceitos como a exploração, a hostilidade e a guerra deixam de existir. Onde as pessoas se encontram nesta nova forma de vida, os inimigos tornam-se amigos. E é disto que se trata: de estabelecer realmente esta forma de vida na Terra, caracterizada pela confiança, pelo amor, pela cooperação e solidariedade. Este sonho concretiza-se assim que os primeiros grupos na Terra tenham começado a reconhecê-lo e a realizá-lo. Refiro-me aqui ao “Plano Global dos Biótopos de Cura.” (Mais informação no meu livro, em Inglês, “Terra Nova – Revolução Global e a Cura do Amor.”)

A terra violada pode transformar-se num paraíso em pouco tempo e captar grandes quantidades de carbono da atmosfera, se cooperarmos com a natureza e seguirmos a sua lógica de vida. Toda a humanidade poderá ter acesso gratuito a água, energia e alimento, se seguirmos a lógica da natureza em vez das leis do lucro. Mas o problema que actualmente enfrentamos é mais complicado, porque o ser humano e a natureza formam uma unidade energética na biosfera. Por outras palavras, a crise ambiental da destruição de ecossistemas e as crises interiores das relações humanas e comunidades destruídas, são duas faces do mesmo problema global.

Ao nível humano, precisamos de novas perspectivas para convivermos sem medo e sem violência, sem os vestígios traumáticos das nossas origens históricas, especialmente nas áreas mais íntimas como a sexualidade, o amor e a parceria, pois a área de crise mais profunda (e mais escondida) encontra-se no relacionamento entre seres humanos. Não poderá haver paz no mundo enquanto houver guerra (latente) no amor. Na época da revolução estudantil, há 50 anos, alcançamos diversos objetivos – mas posteriormente surgiram conflitos dentro dos próprios grupos: conflitos pela ideologia certa, por reconhecimento, por poder e por sexo. Ninguém estava preparado para isso. Ninguém sabia até que ponto a violência exterior do sistema, e o conflito no mundo interior do ser humano, vinham da mesma fonte. Se queremos ser bem sucedidos nos dias de hoje, temos de criar lugares onde a verdade e a solidariedade entre pessoas possam ser aprendidas.

A visão de um mundo curado não poderá ser obviamente imposta à força ou coercivamente, nem divulgada apenas através dos meios de comunicação humanos e técnicos convencionais, pois as forças da oposição são ainda demasiado grandes. Mas à parte da lógica mecanicista da nossa actual forma de pensar nas áreas políticas e ecológicas, existe uma lógica completamente diferente: esta lógica revela-se perante nós quando orientamos a nossa consciência para o funcionamento dos sistemas vivos. Um dos segredos para o sucesso encontra-se no princípio de ressonância, em vez do uso de força bruta.  Tal implica o seguinte: a informação que está de acordo com a matriz interior da vida e a sua ética universal, espalha-se automaticamente onde quer que existam pessoas e grupos dispostos a recebê-la. Para este fenómeno incrível, utilizamos o termo da “criação de um campo morfogenético”, vinda do biólogo inglês Rupert Sheldrake. Quando a visão de uma nova cultura for realmente estabelecida e criada nas primeiras comunidades, o mundo entrará numa espécie de “estado de estimulação,” pois o que acontece nestes primeiros lugares encontra-se em ressonância com a ordem mais elevada da vida. Todos os seres humanos estão geneticamente interligados com esta informação. É assim que surge  o código genético de uma nova civilização.

A informação para um futuro no qual valha a pena viver não contém os velhos slogans revolucionários, mas visa uma posição incondicionalmente favorável à vida, uma ligação interior com as leis mais elevadas do mundo espiritual e com a interligação de todos os seres na grande família da vida. Vivemos actualmente numa grande mudança de épocas, de uma era patriarcal para uma cultura de parceria, do holograma da violência para o holograma da confiança. Quanto mais pessoas no mundo inteiro se ligarem a este processo global, mais rapidamente a crueldade desta era de guerra pode terminar. Isto poderia acontecer muito rapidamente.

Em nome do amor por toda a criação.

www.tamera.org