GLOBAL GRACE DAY
Pela cura da humanidade e da Terra. Salvem Rojava!
Dieter Duhm, 9 de Novembro de 2019
O mundo ferve. De Chile a Hong Kong, uma onda de raiva e revolta percorre a face da Terra. Milhões de pessoas saem às ruas para protestar contra os sistemas dominantes. Uma parte da humanidade defende-se contra o que a outra parte provocou. Tudo isto esconde uma história de milhares de anos de violência, guerra e opressão. A humanidade encontra-se presa num campo global de guerra, não conseguindo encontrar saída do labirinto que ela própria construiu. A guerra invadiu até as áreas mais íntimas das relações interpessoais – sexualidade, amor, parceria. Com uma força tremenda, as mulheres erguem-se contra a violência sexual que acontece por toda a parte. No interior da humanidade encontra-se uma carga explosiva, pronta a detonar a qualquer momento.
Todos nós perdemos o fôlego enquanto testemunhamos os ataques à grande experiência social de Rojava, no nordeste da Síria. Rojava é uma região autónoma estabelecida pelos Curdos, na qual diversos grupos étnicos coexistem em respeito mútuo, sob a liderança social de mulheres (algo a que nem nos países Ocidentais tínhamos assistido), com métodos de agricultura biológica e uma nova forma de vida que poderia servir de modelo para muitos dos povos oprimidos.
O ataque turco ao nordeste da Síria é exemplo da crueldade e da determinação com que os sistemas existentes destroem o desenvolvimento de utopias e de um mundo humano que desafie as regras da centralização do poder. O que aqui acontece – mesmo durante os dias de suposto “cessar fogo” – não é divulgado nos meios de comunicação de massas, sendo apenas transmitido por médicos, jornalistas e testemunhas corajosas no terreno. Até napalm e fósforo branco foram utilizados.
O que agora atinge um ponto culminante de forma tão extrema em Rojava, é algo que na verdade acontece por toda a parte: é a guerra do capitalismo globalizado contra todas as expressões de transformação rumo a uma vida livre, incapaz de ser dominada pelas velhas forças. Observamos este conflicto em todos os continentes. Este é também o nosso conflicto. As mulheres de Rojava (do movimento “Kongra Star”) escrevem, “Não pedimos menos do que a vossa dedicação à protecção dos vossos direitos. Os “vossos direitos” não são diferentes dos “nossos direitos.” Porque os ataques actualmente realizados contra nós, são ataques ao próprio futuro da humanidade. Este é um ataque às mulheres que lutam pela justiça e igualdade.”
Como resposta ao crime global, surgem grupos e movimentos por toda a parte que se erguem em busca de um novo mundo baseado na justiça, verdade e solidariedade: Sextas-feiras pelo Futuro, Extinction Rebellion, Defender o Sagrado, e muitos outros. Estes movimentos poderiam convergir numa forte aliança global se encontrassem uma meta comum positiva – uma meta que não aborda apenas os defeitos externos do mundo actual, mas que dá resposta também aos temas internos e espirituais da humanidade. Porque é aqui, dentro de nós, que encontramos as motivações mais profundas que conduzem à guerra e à devastação exterior. Nenhum soldado do grupo ISIS poderia matar sem transportar uma ferida dentro de si, que depois acaba por transmitir a outros.
Precisamos de uma resposta mais profunda à crise global. As estruturas existentes não podem ser apenas transformadas através de informação, resistência e rebelião. A evolução da sociedade humana precisa de assumir uma nova direcção. As nossas vidas e as vidas de todas as comunidades de paz precisam de uma nova direcção também. Refiro-me aqui à reconexão consciente entre as nossas vidas e uma força que é superior a toda a violência.
Nesse sentido, gostaria de mergulhar em alguns pensamentos que mais cedo ou mais tarde vão transformar fundamentalmente a nossa forma de ver o mundo. Falo aqui daquilo a que chamamos “milagres de cura”, que ocorrem tanto na esfera pessoal como na esfera política. Existe uma força no universo capaz de salvar pessoas das situações mais desesperantes, transformando radicalmente as suas vidas. Esta é a força primordial da vida, da unidade, do amor e da cura. Apesar de 27 anos de encarceramento, Nelson Mandela fez uso desta força de forma a criar novas fundações para o seu país. Um milagre semelhante sucedeu no caso de Abdullah Öcalan, o líder Curdo preso durante 20 anos, que a partir da prisão escreveu livros que conduziram a todo este novo desenvolvimento cultural em Rojava. Estando rodeados de inimigos e ditadores, o que se alcançou em Rojava é quase um milagre.
Para nós, que trabalhamos na criação de uma nova Terra a todos os níveis, é essencial compreender as forças interiores que estão aqui em acção. Estas são energias humanas que se encontram em ressonância com a ordem mais elevada da vida, que se orienta sempre para a unidade, para o amor e para a cura. Em Tamera, chamamos-lhe de “Matriz Sagrada”. Se uma comunidade de 100 pessoas é completamente preenchida por esta força, gera-se imediatamente uma força espiritual que afecta muito mais que a comunidade em questão, pois o que ali é activado é uma força espiritual capaz de mover montanhas.
Os factos são claros: Existe de facto uma força no mundo capaz de colocar um fim a todas as guerras, caso um número suficiente de pessoas se ligue com ela. Esta é a força do amor. Esta força faz parte do plano da vida; enraizada em cada ser humano como estrutura genética, ética e espiritual. Parece quase cínico falar de “boas notícias” em tempos de devastação global; contudo, este poder existe. Existe um campo de cura no universo da vida que pode ser activado em toda a parte. Este não é um sonho ingénuo, mas um padrão da vida, que opera a cada momento e que se move rumo à cura. Todo o ser humano transporta este padrão – ainda que de forma encoberta – sendo isso o que constitui o seu núcleo intacto e mais profundo. O verdadeiro trabalho de paz consiste na activação desta essência intacta e saudável. Os “milagres” de cura não são rumores religiosos mas factos empíricos, ocorrendo tanto na esfera pessoal como na política. Historicamente, enfrentamos agora a tarefa incomum de reconhecer esta força, solidificando as suas vibrações energéticas e enviando-a para onde ela é necessária.
Em Rojava, existem comunidades de pessoas que conseguiram manter vivo este núcleo intacto. Conduzidas por mulheres, milhões de pessoas estabeleceram uma nova forma de vida. Abdullah Öcalan escreve “Esta história de 5000 anos de civilização é essencialmente uma história de escravidão das mulheres.” Noutro texto, Öcalan escreve que a única força que nos pode salvar é o amor pela verdade. Durante 7 anos, tem decorrido um desenvolvimento em Rojava que queremos e precisamos de apoiar com toda a nossa força, porque este representa o sinal de um novo mundo. Podemos apoiar este movimento ao espalhar informação globalmente e ao direccionar para ele a nossa força espiritual. No sistema espiritual do mundo, estas forças têm impacto imediato se tiverem origem numa fonte autêntica.
É aqui que se encontra a necessária mudança de sistema, para nos libertarmos da velha hipnose: a mudança do nível de ordem convencional das sociedades de guerra, rumo à ordem mais elevada da vida, do amor e da solidariedade com todos os seres vivos. Se esta mudança de sistema for bem sucedida, ela não acontecerá apenas em alguns grupos de pequena dimensão, mas irá nascer tendencialmente em toda a parte, pois toda a vida está ligada com este nível de ordem, a Matriz Sagrada.
Nesse sentido, pode emergir um processo global, ao qual nos podemos referir figurativamente como o ligar de um interruptor no bio-computador global. Esta é a direcção da transformação que todos atravessamos. Pessoalmente, acredito que é apenas uma questão de tempo até que os milhões de pessoas que actualmente trabalham por uma nova Terra se juntem em nome desta transformação.
A Terra apela a todos os movimentos que hoje se erguem pela mudança de sistema: juntem-se neste espírito, superem os conflictos e a competição interna no seio de todos os movimentos e colaborem pelo trabalho que tem de ser agora realizado. “A criação de comunidades funcionais [autónomas e descentralizadas] em cada vez mais lugares, através da regeneração de ecossistemas, da cura do nosso trauma colectivo, e da criação de estruturas sociais de solidariedade e confiança, é o trabalho de transformação da actualidade”, escrevem 15 líderes de movimentos sociais e comunidades numa carta recentemente publicada no The Guardian (a 1 de Novembro de 2019).
Precisamos de três linhas estratégicas para alcançar sucesso global. A primeira linha é a resistência nas ruas; a segunda é a divulgação de informação sobre factos reais, que são ocultados pelos meios de comunicação de massas; a terceira é a nossa ligação interior com as forças da Matriz Sagrada.
Todos integramos uma mesma entidade unificada. Esta frase da biblioteca cósmica é a base para todos os grupos de paz na Terra. Esta é a mesma entidade e a mesma consciência que pulsa tanto através de um invertebrado como de um ser humano, numa molécula e numa galáxia. Este é o espírito com o qual os povos de todas as culturas celebraram a sua união, e com o qual o pequeno peixe baiacu desenha o seu mandala no leito do mar. Na carta lê-se “Assim que reconhecermos as nossas lutas como inerentemente interligadas, tanto entre si como com a força da vida em si, nenhum exército neste planeta conseguirá travar a transição inevitável.”
Caros amigos em Rojava, estamos em profunda solidariedade com a vossa visão e o vosso trabalho. Elevamos as nossas forças pela vossa protecção e resiliência. Em Rojava, nasce uma luz que já não pode desvanecer. Em nome do amor por todos os que actualmente vos apoiam, em nome do amor pelas vossas e pelas nossas crianças, e em nome de todos os seres vivos!