CURAR A ÁGUA, CURAR O AMOR:
A MESMA MUDANÇA DE SISTEMA
“A água é para a natureza o que o amor é para o ser humano. Ao curar a água, curamos a natureza – curando o amor, curamos a humanidade. Tanto a cura da água como a cura do amor exigem uma reconfiguração dos sistemas sociais existentes. Em ambas as áreas observamos que as leis básicas da vida contrariam as leis básicas do capitalismo. A nova era desenrolar-se-á à medida que as leis básicas da vida forem descobertas, entendidas e seguidas pela humanidade.“
–Dieter Duhm
Os nossos especialistas em ecologia dizem-nos que não é possível resolver os problemas alarmantes da desertificação e erosão represando os rios, construindo canais de betão e praticando uma agricultura de monocultura. Ao invés, as paisagens desertificadas regeneram-se quando permitimos que a água das chuvas se infiltre de novo no corpo terrestre. Desta forma, a superfície do solo desenvolve-se naturalmente e os biótopos começam a florescer numa diversidade saudável. É com a diversidade que os sistemas naturais se tornam estáveis e resilientes. A natureza evolui sempre rumo a este processo de cura – mas dado os elevados níveis de destruição na maior parte do planeta, o ser humano tem a responsabilidade de estimular e acelerar activamente este processo. De facto, a natureza tem poderes de auto-cura imensos, regenerando-se de imediato assim que criamos as estruturas ecológicas necessárias à sua cura (ver Paisagens de Retenção de Água).
O amor e a sexualidade operam de forma surpreendentemente semelhante.
Na sociedade dominante, o amor causa os mesmo danos que a água da chuva provoca na natureza quando não é absorvida por uma superfície de solo natural. Tanto a água como o amor tornam-se violentos — quando chove há cheias, ou quando não chove há fogos ou secas. Da mesma forma, as pessoas tornam-se obcecadas, ciumentas e violentas quando tocadas pela alta-voltagem da energia sexual, ou caso contrário tornam-se solitárias. Pretendendo controlar essas forças, aprisionamos as nossas relações amorosas em vedações apertadas de relações possessivas e restritivas, tal como aprisionamos a água em lagos revestidos a plástico, ou endireitamos o seu fluxo em canais estreitos.
O amor quer mover-se livremente, tal como a água. Quer serpentear e oscilar, mas quer também enraizar-se profundamente em relações estáveis, tal como a água quer infiltrar-se profundamente na terra. Como pode a natureza tornar-se professora para as nossas questões sociais? Como fazer emergir um sistema de vida em que o amor se torne sustentável? Qual a configuração deste sistema, para que consiga curar o medo da perda no amor?
O amor e o Eros necessitam de estruturas sociais diferentes, da mesma forma que a água precisa de diferentes estruturas ecológicas, para curar e triunfar. Quando existe uma camada natural de solo superficial, a água da chuva é uma verdadeira benção, dando vida às plantas, animais e humanos. Da mesma forma, Eros é uma verdadeira dádiva de vitalidade para todos os seres humanos, uma força vital sagrada que nos permite experienciar a união natural com todos os seres, quando é recebido e amparado por uma comunidade de confiança. A confiança representa para os seres humanos, o que o solo permeável representa para a natureza. Para a reconstruir, casais, famílias e solteiros precisam igualmente de uma comunidade na qual se possam integrar – comunidade essa que, por sua vez, tem de estar inserida num sistema social mais alargado. Precisamos de comunidades que não reprimam, mas que digam sim e honrem a força do Eros (ver A Cura do Amor).
Quando reunimos a calma necessária, podemos sentir a vida a pulsar através de nós, querendo oferecer-nos as suas respostas. O amor funciona em concordância com uma lógica própria que lhe é inerente, lógica essa que podemos estudar. O amor e o Eros querem ser livres – tal como nós e todos os seres sencientes. Todos queremos mover-nos em consonância com a nossa verdadeira natureza.
Assim que reconhecermos esta realidade, estabeleceremos formas de vida nas quais podemos expressar a nossa verdade no amor, ao invés de fazermos declarações de guerra nos nossos relacionamentos, criando condições para o crescimento da confiança, por oposição a uma subliminar ansiedade da separação. Estas formas de viver existem em comunidades baseadas na transparência e na verdade, capazes de abraçar a honestidade no amor e no Eros. Isto permite que a paz possa surgir, mesmo quando um parceiro foca a sua atenção numa outra pessoa. Em vez de seguir os hábitos do ciúme e do drama, podemos chegar à percepção de que, também no amor, a estabilidade e a permanência advêm da diversidade e da liberdade.
Tal como uma paisagem devastada se pode curar a partir da criação de espaços de retenção de água, o estado devastado da sexualidade e das relações no nosso mundo pode transformar-se num amor vivo, que emerge de uma base de confiança, dentro de um novo sistema social.
Os mesmo princípios são aplicáveis à água e ao amor – eles mantêm-se puros, plenos de vitalidade e frescura, quando se podem mover em concordância com a sua verdadeira natureza.
Bernd Mueller, antigo coordenador do nosso Instituto de Ecologia Global, fala sobre a consciência da água (Inglês):